segunda-feira, outubro 17, 2005

eis porque gosto tanto da Clara

"Eu acho que a verdadeira razão pela qual os homens andam todos como toda a gente se queixa que andam, assim trombudos, deprimidos, alienados, silenciosos, essas coisas, tu sabesessas coisas que eu te digo tantas vezes, eu acho que os homens andam assim porque estão a ser obrigados a desempenhar um papel que não tem absolutamente nada a ver com eles. Isto do homem doméstico é uma modernice sem pés nem cabeça. No meio do entusiasmo das revoluções, ninguém perguntou aos homens se eles queriam viver desta maneira. E eu acho, mas é que acho mesmo, que a vida em família é completamente contrária aos instintos do homem. A sério."

Clara Pinto Correia, "No meio do nosso caminho", Oficina do Livro, 2005

terça-feira, outubro 11, 2005

Londres e os Paraísos Artificiais

Por aqui navega-se entre Londres e S. Paulo, por entre contos ou breves descrições. Há um negro carinho nos passeios de Virgínia Wolf pela Londres dos anos 20/30. As docas e os navios que ali estão presos à agua, "por uma pata", as fábricas sujas, as terras lamacentas. Como Virgínia, também estes retratos aparecem ora envolvidos em ternura e felicidade, como de repente se deixam abater por uma enorme tristeza e melancolia.
Com Paulo Henriques Britto as viagens são feitas pelo quotidiano. pelas rachadelas na parede, por uma maçã que apodrece na mesinha de cabeceira ou por um vulto que chama por nós no meio da rua.
Para o vencedor do Prémio Portugal Telecom de literatura brasileira, em 2004, a paisagens dilui-se na emergência dos objectos e gestos quotidianos. Uma janela no prédio em frente, uma cozinha ou a cama onde nos deitamos, enfermos, são espaços de evasão tão eficazes quanto uma viagem ao mais sereno desertou ou à mais movimentada metrópole.
Nestes dois casos as viagens, pela Londres do-pós guerra ou de um quarto vazio, são sempre viagens interiores, sem paraísos ou artificialismos.


"Mais adiante, uma pousada com varandas em arcoapresenta ainda o estranho ar de dissipação próprio dos locais dedicados ao prazer. Este foi, em meados do século XIX, um lugar referenciado pelos foliões, e chegou a ser mencionado no contexto de alguns dos mais famosos casos de divórcio da época. Agora que o prazer se foi, ficou só o trabalho; e a pousada, ao abandono, ergue-se hoje como uma bela, engalanada com os seus mais belos atavios nocturnos, contemplando as planuras de lama, as fábricas de cera e aqueles amontoados de terra malcheirosa (sobre os quais os camiões despejam continuamente novos montes) que vieram substituir por completo os campos onde, há cem anos atrás, os amanttes vagueavam e colhiam violetas."

Virginia Wolf, "Londres", Relógio D'Água, 2005

"Olho em volta. A cozinha está escura. Acendo a luz. De repente os objetos parece que vêm à tona, é essa idéia, antes estavam afundados na escuridão, agora vêm à tona. Todos exatamente nos seus lugares, nenhum aproveitou a minha ausência para sumir, virar-se do avesso, se transformar em salamandra ou estátua de sal. Essa lealdade das coisas sem vida me enternece profundamente, dá quase vontade de chorar. A gente sempre pode confiarnum escorredor ou num fogão de quatro bocas ou num pano de prato, eles são absolutamente incapazes de sacanear a gente. É mesmo um negócio comovente. O amor deve ser mais ou menos isso."

Paulo Henriques Britto, "Paraísos Artificiais", Companhia das Letras, 2004

"As intermitências da morte"

E se a morte fosse de férias. Se a senhora de negro vestida e de alfaia agrícola às costas estivesse cansada.
Este é o mote para o novo romance de José Sramago. As funerárias vão à falência por falta de clientes. Os asilos estão sobrelotados. O povo habitua-se à vida eterna.
A morte é a protagonista de "As intermitências da morte". No Brasil sai ainda este mês, em Portugal ninguém faz ideia.
Segue aqui a sinopse, vinda do outro lado do Atlântico:

"Não há nada no mundo mais nu que um esqueleto", escreve José Saramago diante da representação tradicional da morte. Só mesmo um grande romancista para desnudar ainda mais a terrível figura. Apesar da fatalidade, a morte também tem seus caprichos. Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder "passar desta para melhor". Os empresários do serviço funerário se vêem "brutalmente desprovidos da sua matéria-prima". Hospitais e asilos geriátricos enfrentam uma superlotação crônica, que não pára de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise. O primeiro-ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque "sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja". Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Então, o que vai ser da nação já habituada ao caos da vida eterna? Ao fim e ao cabo, a própria morte é o personagem principal desta "ainda que certa, inverídica história sobre as intermitências da morte". É o que basta para o autor, misturando o bom humor e a amargura, tratar da vida e da condição humana.

quinta-feira, outubro 06, 2005

os debates

"O político parece-se muito com os varões de certas tribos do Pacífico austral que vozeiam ruidosamente dores de parto fora da cabana enquanto, lá dentro, as suas mulheres estão a parir; um simula as dores, mas quem dá à luz é a outra. As discussões políticas são vozearias, frequentemente ineficazes, enquanto não chega o último momento possível para a realização das mudanças inevitáveis. Ensinaram-nos que é isso que faz da política uma coisa frustrante, irresponsável e fraudulenta, mas devíamos habituar-nos a considerar que é isso o que a constitui."

Daniel Innerarity, "A Transformação da Política"

Domingo dispo a bata de parteira.

eremitério

"mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridescente pressagia
o destino deste corpo

os dedos cintilam no húmus da terra
e eu
indiferente à sonolência da língua
ouço o eco do amor há muito soterrado

encosto a cabeça na luz e tudo esqueço
no interior dessa ânfora alucinada

desço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul
e os lugares dantes povoados
ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagem

o mar subiu ao degrau das manhãs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusão

assim me habituei a morrer sem ti
com uma esferográfica cravada no coração"

Al Berto, Horto de Incêdio, Assírio & Alvim

sexta-feira, setembro 02, 2005

espera...



Jason

Jason é um autor de banda desenhada norueguês e nunca será editado em português. este dado não causa surpresa a ninguém. Jason é autor numa área, a BD, só por si alternativa, onde, ainda por cima, está inserido num nicho também conhecido como alternativo. Jason é alternativo ao quadrado. o que, falando nós de estórias em quadradinhos, é uma prova de profunda e subtil coerência.
mas Jason devia estar traduzido e distribuido em Portugal, porque o livro "Hey wait..." é uma delicada metáfora do nosso país.
dois amigos, na primavera da juventude, vivem uma vida de sonho, diversão e alegria. vivem às custas dos pais, empanturram-se de doces e tudo corre bem.
até ao dia em que Jon diz ao amigo "hey wait...", no momento menos apropriado e tarde de mais. Jon carregará, ao longo do resto da sua vida, o peso dessa frase.
no instante seguinte todos os seus sonhos caem por terra. o sonho de ser jornalista vira a realidade de um trabalho na construção. a alegria dá lugar à mais negra solidão.
Portugal, como Jon, carrega o peso de ter dito, sucessivamente, "ei espera..." muito tarde e nos momentos errados.
nos momentos de maior prosperidade não fomos capazes de ter uma clarividência prospectiva. acabamos por adivinhar os acidentes tarde, contribuindo, inadvertidamente, para a ampliação do desastre.
tal como Jon também nós olhamos para o erro, com os braços lívidos, condenados a passar muito longe de tudo quanto alguma vez desejamos.

quinta-feira, setembro 01, 2005

o super mário

estou em crer que o "nosso" salvador vai acabar assim



Chris Ware

eu vi o anúncio dele

ontem, ao fim do dia, senti que este país tinha ficado ainda mais velho, chato, gordo e convencido de que é capaz de falar às novas gerações.


Chris Ware

está a chegar




Derek Kirk Kim era um completo desconhecido até ter sido nomeado para os dois principais prémios de banda desenha: o Eisner e o Harvey award.
o feito foi conseguido com "Same Difference and other stories", uma compilação de pequenas estórias que foram lançadas em primeiro lugar na internet, e onde lá permanecem.
hoje é um dos valores emergentes da banda desenhada norte-americana, para juntar a Jeffrey Brown ou Craig Thompson.
esperemos que ele chegue rapidamente.

estamos mais pobres

ainda não abandonamos o Verão e já um vento outonal varre a blogosfera. caem páginas como folhas. fora do mundo, aviz, nariz de ferro, viagem pelas ruas da amargura, desapareceram ... o gato fedorento, a gávea, o homem a dias e os cadernos do J P Coutinho, já não são, há algum tempo, a mesma coisa.
corre um frio de morte.

sexta-feira, agosto 05, 2005

encaminhando-me para o mar

"Tinha uma teoria própria e muito especial sobre os corais. Na sua opinião, os corais eram, como já foi dito, animais marinhos que, de certo modo, apenas por modéstia inteligente, fingiam ser árvores e plantas, para não serem atacados ou devorados por tubarões. Os corais ansiavam ser colhidos pelos mergulhadores e trazidos à superfície da Terra, cortados, facetados e enfiados, para poderem finalmente cumprir o seu verdadeiro objectivo de vida: isto é, tornarem-se o adorno das belas camponesas. Só aqui, nos pescoços brancos e firmes das mulheres, em contacto íntimo com as artérias vivas, as irmãs dos corações femininos, se sentiam renascidos, adquiriam o brilho e a beleza e exerciam a magia que lhes era inata para seduzir os homens e despertar neles o prazer do amor. Sem dúvida que o velho Deus Jeová criara ele próprio tudo, a Terra e os seus animais, os mares e todas as suas criaturas. No entanto, Deus confiara, Ele próprio, ao Leviatã, que estava na origem de toda a água, em especial dos corais, durante algum tempo, mais precisamente até à chegada do Messias, a administração dos animais e das plantas dos oceanos.
Depois de tudo o que foi dito, poder-se-ia pensar que o comerciante Nissen Piczenik era conhecido como um homem estranho."

Joseph Roth, "Leviatã", Assírio & Alvim, 2001

quinta-feira, agosto 04, 2005

num quarto escuro, a Emília Silvestre

"Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama é porque ele, apesar de tudo, nos une ainda. Liga esta casa à tua casa e não te esqueças que me tinhas prometido falar. Imagina que mergulhei numa confusão de sonhos. A tua chamada transformava a campainha do telefone num som mortal e eu caía; depois, vi um pescoço branco que alguém estrangulava; depois ainda, achei-me no fundo dum mar que se parecia com o apartamento de Auteuil, ligada a ti por um tubo de escafandro e a suplicar-te que o não cortasses. Enfim, sonhos estúpidos quando se contam; mas o pior é que durante o sono eram demasiado vivos. Terrível, meu amor....................................................................Porque tu me falas. Há cinco anos que vivo de ti, és o único ar que posso respirar, que levo o tempo à tua espera, a julgar-te morto, a reviver quando entras e te vejo, a morrer com medo de partires. Neste momento, respiro porque tu me falas. O meu sonho, afinal, não é assim tão falso; se desligares agora, morrerei afogada naquele mar que parecia o teu apartamento.....................................................................................................
.........................................................................................................................
...............De acordo, meu amor; dormi. Dormi porque era a primeira vez. O médico bem disse: é uma intoxicação. Mal ele sabia... A primeira noite, dorme-se. O sofrimento distrai, é uma novidade, e suportamo-lo. O que não se suporta é a segunda noite, a de ontem, e a terceira, a de hoje, a que vai começar dentro de alguns minutos, e amanhã e depois de amanhã, dias sobre dias, a fazer o quê, meu Deus?"

Jean Cocteau, "A voz humana", Assírio & Alvim, 1999

olhar os factos

"O estudo que granjeou fama a Levitt é dedicado à criminalidade. O economista investigou as razões do decréscimo de crimes violentos na década de 90, nos Estados Unidos. Com cálculos rigorosos, derrubou várias explicações convencionais, como o uso de novas táticas policiais e o crescimento econômico, e chegou a um fator que não se via nas análise anteriores: a legalização do aborto nos Estados Unidos, em 1973. Levitt argumenta que filhos indesejados de mães solteiras e pobres têm maior risco de enveredar pelo crime – e que milhões desses criminosos em potencial foram abortados de 1973 em diante. Segundo suas estimativas, o impacto do aborto responderia por 40% da queda da criminalidade nos anos 90 (outros fatores importantes incluiriam o aumento do efetivo policial e do número de prisões). A tese foi atacada de todos os lados: os conservadores acusavam Levitt de fazer a propaganda do aborto, e a esquerda o atacou por supostamente propor a esterilização dos pobres. Tudo bobagem. Levitt não é um defensor nem do aborto nem da eugenia. Ele é um cientista que confia no exame empírico, e não em esquemas ideológicos. Seu livro traz esta lição fundamental: o essencial é olhar sempre os fatos."

in Veja, Freaknomics

Ainda assim entendo que não passou o tempo suficiente sobre o referendo realizado. Há que respeitar a decisão da maioria de votantes, sob pena de haver a tentação de retir referendos até acertar no resultado que mais convém.

terça-feira, agosto 02, 2005

os cábulas

Copiando o Abrupto

MICRO-CAUSAS:
PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

"Respeito muito os signatários, mas há sociedades que valorizam mais a especulação e a análise, enquanto outras valorizam mais a busca de soluções."
(Manuel Pinho, Diário Económico, 28-07-07)

O despudor continua em desfile. Depois dos estádios do Euro 2004, temos agora o aeroporto da Ota. Sem uma justificação plausível, sem um estudo que caucione a decisão.
Aliás somos um país profundamente cábula... um país que não gosta de estudar, de fazer contas ou de ler.
Somos um país onde os ministros trazem papelinhos escritos para auxiliar a memória. Somos um país de copianços.... se Espanha tem nós também temos que ter.

segunda-feira, agosto 01, 2005

o desejo

"Como uma vasta rede de pesca a abarrotar de sardinhas, o céu arqueava-se em abóbada por cima dos centauros, brilhante de estrelas. Diogo expeliu uma lufada de ar; nele, sempre sinal de que qualquer clique interior o libertava de tensões acumuladas. Desde que primeiro se apercebera da existência, ali na sala, daquelas criaturas, mudara várias vezes de atitude em realção a elas. O terror infantil - face às caras hirsutas, aos troncos musculosos, aos flancos equinos, ás labaredas que jaculavam das tochas - haveria de dar lugar, anos mais tarde, a leve repulsa. Depois, progressivamente, a repulsa foi-se transformando em curiosidade. Agora era escusado negá-lo. Era mesmo fascínio."

Frederico Lourenço, "A Formosa Pintura do Mundo", Livros Cotovia, 2005

Para muitos, Frederico Lourenço não passará de uma nota apensa à tradução da Odisseia e da Íliada. Para outros, bem menos, é o responsável pelo contacto com o mundo grego, com as narrativas fundadoras, com os heróis, com as viagens.
Mas há ainda o Frederico Lourenço original e singular. Há o tradutor do desejo, o navegador dos impulsos do corpo, o poeta de uma Laura contemporânea.
Fredrico é o escritor de vidas solitárias, de amores e desejos impossíveis. "A Formosa Pintura do Mundo" é um conjunto de painéis sobre o encantamento pelo outro. Tal como Petrarca amava a sua Laura inatingível, também os homens e mulheres destes e outros tempos repetem essa devoção sem medida.
Para aqueles que não conheceram o amor, as narrativas de Frederico Lourença não passam de curtas tragédias de gente inconsolável. Para os que foram atingidos na medula da alma, estas são as únicas histórias que contam. Porque Amar Acaba, no exacto momento em que o desejo se cumpre.

"Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?

Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.

E se eu consito sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.

É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno."

Petrarca, Rimas

terça-feira, julho 26, 2005

100% confundidos

há uns dias escrevi um posto sobre uma sub-suburbanidade dos paredenses e na fundamentação da ideia adiantei: “só assim se compreende que um festival de música (Antarte Pop-Rock / 100% nacional) se faça anunciar como sendo em Rebordosa/Porto.
há mais orgulho na pertença a uma freguesia, do que numa pertença concelhia. este é apenas um fait-divers nessa demanda.”

o certo é que na volta do correio recebi este mail da organização do festival.

“Olá!
A organização do festival orgulha-se de ser de Rebordosa / Paredes / Porto.
Rebordosa / Porto pareceu-nos mais adequado para localizar o festival Antarte Pop Rock... pois é o primeiro do Distrito do Porto, onde Paredes pertence. Mais! já existe Paredes... de Coura!
Cumprimentos.”

pois então vamos aos esclarecimentos, entretanto já enviados por mail aos organizadores do festival:

acredito que a organização se orgulhe de ser de Paredes, mas imaginemos que todas as freguesias do distrito do porto se lembravam de adoptar a mesma política,acreditem que seria muito difícil localizar o que quer que fosse.
quanto ao “Antarte Pop-Rock” ser o 1º festival do distrito, alguém deve ter informado muito mal os organizadores.
o distrito do Porto tem uma larga tradição de festivais de música. desde logo o mais antigo e com mais pergaminhos, o “Ritual Rock”, que acontece, anualmente, no final do Verão, junto à Alfandega.
com vida mais efémera tivemos o “Imperial ao Vivo”, que balançou entre a Alfandega e o campo de treinos do outrora Estádio das Antas. festival que trouxe a Portugal nomes como os Smashing Pumpkins, Beck, Skunk Anansie, Nick Cave, James, Pulp, Prodigy, etc...
para amantes da música do Mundo tivemos também, nos jardins do Palácio de Cristal, o Ritmos do Mundo, com a Angelique Kidjo ou o Salif Keita, que mais tarde foi substituído pelas noites do Palácio.
mesmo quanto ao facto de ser o 1º e maior festival do Vale do Sousa, já chegam tarde.
A organização do “Antarte Pop-Rock” não se deve lembrar do Penafiel Open Air, aquele que foi o maior festival de heavy metal do país, e que se realizava, até há bem pouco tempo, em Penafiel.
nomes como os Cradle of Filth mostraram-se pela primeira vez aos fãs portugueses, em Penafiel.
o “Antarte Pop-Rock” tinha boas condições, mas falhou em duas áreas muito importantes.
mesmo assim em nenhum momento os jornalistas criticaram essas gritantes deficiências, nem mesmo quando eram referidos os naturais exageros do 1º e maior festival do distrito.
por isso e até ao momento, o “Antarte Pop-Rock” é só mais um festival do distrito do Porto, nem o maior, nem o primeiro e longe de ser o melhor.
quanto ao evitar usar Paredes, para não confundir com Paredes de Coura, garanto que não há esse perigo... desde logo, bastava olhar para os cartazes.
da mesma forma que ninguém confunde o género humano, com o Manuel Germano.

segunda-feira, julho 25, 2005

apneia de escrita

hoje recebi um mail oficial. com toda aquela escrita oficial e formatada. cheia daqueles "oportunamente", "ficando a aguardar" e "melhores cumprimentos".
um mail que parecia grande coisa trazia afinal de contas, apenas, uma frase.
1270 caracteres numa oração. 201 palavras numa frase. um único ponto final para tanta ideia, projecto, objectivo e futuro. eu, asmático confesso, não resisti ao fôlego verborreico. acredito que o mail até me poderia salvar, mudar a vida, mostrar-me um caminho de luz e felicidade, o facto é que não resisto até ao seu fim.
capitulo ao fim de umas quantas palavras, de umas dezenas de caracteres.
ofegante, desepero por notícias do fim da frase.
Como diz Fernando Sabino: "No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim." e o fim não chega e isto continua sem bater certo.

vou devolver o mail, dizendo que vou "ficando a aguardar" "oportunamente" pelo final da frase.
"com os melhores cumprimentos"

A formosa tragédia

"Tinha dezanove anos. A minha vida, para todos os efeitos, mal começara. Mas antes mesmo de ter podido pisar-lhe o palco, parecia ter chegado já o momento de fechar o pano. A tragédia grega ensina que "o amor não deve atingir a própria medula da alma". Mas na vida de alguns de nós, de preferência uma única e irrepetível vez, a medula da alma é atingida pelo amor.
Felizes os que sobrevivem."

A Formosa Pintura do Mundo, Frederico Lourenço, Cotovia, 2005

sexta-feira, julho 22, 2005

cientificamente provado e testado

Num blog de gente e com vida de cão foi levantada uma questão tão séria, quanto velha: "Afinal o que é que os homens querem?".
Sobre este tema não há quem não tenha ou manifeste uma opinião. Para mim há uma série de pressupostos empíricos que podem ser aduzidos, mas nestas questões não há como recorrer às ciências.

"Os seus resultados ("The Managerial Woman", de Henning/Jardim) confirmam um ponto muitas vezes violentamente negado pelas feministas mais militantes: os homens e as mulheres têm culturas diferentes - culturas informais diferentes. As expectativas dos homens e das mulheres, as suas estratégias, as suas atitudes em relação ao trabalho e aos seus colegas são completamente diferentes.
(...)

Para os homens, o essencial é aquilo que fazem, para as mulheres é aquilo que são."

"A Dança da Vida", de Edward T. Hall, Relógio d'Água, 1996

terça-feira, julho 19, 2005

gatices

Para a isabel Peixoto, que gosta destas bichezas

OUTRA GATA

"Embora seja tão
minúscula, está viva
a gata que se esquiva
enquanto minha mão,

com mais de um arranhão,
conclui a tentativa
inútil e, à deriva,
afaga o nada em vão.

Fruindo em paz de sete
vidas, no entanto, a gata
faz sua toilette

e assim não se constata
que esconde um canivete
suíço em cada pata."

Nelson Ascher "ALGO DE SOL", 1996

os sub-suburbanos

ninguém vive em Paredes. pelo menos é essa a conclusão a que chega cada vez que se fala com um paredense, fora da sua terra. vivem todos no Porto, quando muito, nos arredores do Porto, enfim, perto do Porto.
há uma vergonha entranhada e completamente justificável. eu próprio digo que durmo em Paredes, recusando a ideia de viver nessa terra. viver significa participar nesse espaço, comungar uma pertença, experimentar um dia-a-dia local e particular.
eu recuso essa sorte. durmo em Paredes, de facto, não mais.
os paredenses fazem o mesmo, só assim se compreende que um festival de música (Antarte Pop-Rock / 100% nacional) se faça anunciar como sendo em Rebordosa/Porto.
há mais orgulho na pertença a uma freguesia, do que numa pertença concelhia. este é apenas um fait-divers nessa demanda. assim se explica que todos os candidatos à câmara municipal sonhem com uma integração na área metropolitana do Porto. os paredenses têm um cosmopolitismo que não cabe no Vale do Sousa. preferem ser o subúrbio de Valongo a ter uma identidade própria. estes são os sub-suburbanos.

na circunstância, sem pompa

passaram dois anos de palavras intermitentes. ninguém deu por isso. nem eu. foi no Sábado.

segunda-feira, julho 11, 2005

"o bailado dos afogados", seguido do "canto do cisne"

falta pouco tempo para que se fechem os plantéis autárquicos. o mesmo será dizer que falta pouco tempo para que os candidatos a vereadores possam exibir seus cantos e encantos.
em Paredes os ritos já começaram e o bailado, de um ou outro afogado autárquico, chega a dar dó.
tinha tudo para ser dramático, se não fosse patético.

"volúpia do aborrecimento"

assim se encontra este blog e seu autor, numa profunda "volúpia do aborrecimento".
mergulhado em livros sou acometido do síndrome de Bartleby: nada, do que por aqui se escreva, merece conhecer a luz do dia.
as mais recentes leituras afogaram-me num pudor de escrita. continuo a digerir a obra de Gonçalo M. Tavares, as conversas com o Ondjaki, os lírios do Érico Veríssimo, os charutos do Rubem Fonseca, as memórias do Machado de Assis e a Tramontana de Gabriel García Marquez.
compreendam que se me esmoreça a escrita diante desta leitura.

terça-feira, maio 31, 2005

uma solução séria para o deficit

muito se tem discutido sobre as áeas de intervenção do governo para reduzir a despesa do Estado. até ao momento quase não ouvi falar sobre uma das medidas mais acertadas e justas: a redução do número de autarquias.
sendo este um país pequeno, justifica-se a existência de mais de 300 autarquias?
claro que não. muito pouparia o Estado se acabasse com cerca de 25% das Câmara Municipais existentes.
para esse peditório o Vale do Sousa pode contribuir reduzindo para metade as autarquias existentes.
tudo quanto é feito hoje, poderia ser concretizado com maior eficiência e eficácia, com metade das edilidades.
se Penafiel e Paredes se unissem num só concelho, teríamos um território e uma população tão governável como Matosinhos, Gaia ou Maia.
Castelo de Paiva será que faz sentido existir "per si"? e Lousada? a lógica instituída de criar concelhos a torto e a direito para responder aos "anseios" das populações.é a mesma lógica que leva à criação de cidades sem pés, nem cabeça, como é o caso de Paredes, que já conta com uma meia dúzia de "cidades" de meia tigela.
o Vale do sousa será apenas um exemplo. Braga tem outros seis concelhos, que poderiam ser reduzidos a três. e por aí fora.
acredito mesmo que bem vistas as coisas, e feitas as contas, conseguiríamos reduzir as Câmaras Municipais para metade. reduzindo as tentações empregadoras em época de eleições, unificando serviços tornando-os mais eficazes (como os serviços de águas e saneamento), apostando numa melhor rentabilização e gestão dos equipamentos (piscinas, teatros, pavilhões, etc).
estou certo que as pessoas dos concelhos diluídos prefeririam pertencer a um concelho com dimensão, a continuar em pequeninas coutadas, geridas por caciques sem visão.
se ao nosso país falta dimensão, às nossas autarquias falta olhos na cara. mas enfim isto está mais para criar o concelho de Canas de Senhorim, do que para reduzir a malha autárquia que nos prende a atrasa.
o importante mesmo continuará a ser o que diz a canção:


"E é porque meu pai tinha um parente
Que era amigo de um soldado
Que morava em frente à casa de um vereador"

Falcão

sim, sim, siiimm

sinceramente não percebo como pode haver tanto defensor do "não", neste país. é certo que somos um povo atreito ao negativismo, mas, ainda assim, considero que as questões de índole cultural e comportamental não devem explicar tudo.
nesta fase em que meio mundo, ...pronto um bom bocado do mundo,...ok, um nico do mundo, ou seja, ... meia dúzia de maduros neste mundo se preocupa com o "não" fracês, os portugueses deveriam manifestar-se ruidosamente a favor do "sim".
não há melhor argumento do que este número: 6,83. este é o nosso número da besta, bem superior ao famoso 6,66.
6,83 é a prova de que não nos sabemos governar, logo que nos governem por ajuste directo. que criem a mais federal das federações e nos encaminhem definitivamente.
este país não será pior se for governado por alemães, ingleses ou, suprema das sortes, por suecos.
o raciocínio é simples e linear. se, efectivamente, os problemas com a matemática são tão profundos e transversais, desde os primeiro-ministros até aos bancos do primeiro ciclo do ensino básico, vamos assumir isso. somos muito maus com contas. não temos paciência para os números. lidamos mal com abstracções.equacionamos mal o nosso presente e temos pouca capacidade de perspectivar um futuro.
se isso não bastasse temos a incontornável questão do turismo. dizem os entendidos que é o nosso futuro. se assim é, não restam mais dúvidas, entreguemos isto em definitivo à Europa, eles que nos organizem como quiserem, que nos governem pelo melhor, que adaptem a geografia lusa ao que lhes der mais jeito.
podemos ser a Acapulco da Europa. entreguem as chaves dos palácios de S. Bento, das Necessidades, vamos concessionar isto tudo...pior não ficará, de certeza.

quarta-feira, maio 25, 2005

gente que investe e não morre




para o Vitor

a ignorância em torno do País basco, fez com que todos , quantos me rodeiam, tivessem insistido para que desistisse da ideia de ir passar férias para a "terra da ETA".
num mundo em que as ideias são, cada vez mais, alicerçadas pela comunicação social, as notas sobre os sucessivos atentados bombistas criaram uma imagem do país basco, relativamente próxima de Gaza.
a realidade é outra. a realidade é a de um país com carácter. há uma terra com fronteiras delimitadas. há um espaço mental chamado Euskadi. quem lá chega sente que há muito mais do que Espanha nesta península. ainda que não sirva de exemplo, cheguei pela primeira vez a Pamplona em pleno arranque das famosas festas de San Fermín.
Não há nada que se compare com aquela onda branca e vermelha, regada a vinho e alimenta por pinchos e bocadillos.
o melhor retrato que guardo daquela nação é o de uma Praça Consistorial a rebentar pelas costuras. sentei-me num belíssimo sol. passei por músico de uma das peñas(pequenas bandas de bairro que tocam uma música contagiante e com enormes influências célticas).
desde o primeiro minuto que milhares de bascos vestidos com batas e impermeáveis mergulhavam e regavam os restantes com sangria. como Hemingway tão bem sabia, por aqueles lados o vinho corre com rapidez e alegria. entre o quarto e o quinto touro a música, até então imparável, serena e começa a segunda parte da orgia. há comida para toda a gente. abrem-se sacos com refeições comunitárias. um casal de desconhecidos estendeu-me um prato e talheres. tinha sido elevado à condição de visita da casa. comi sopa, bifes, peixe, panados de arroz, bolos, café e chocolates. tudo regado com sangria e muita cerveja.
há como que um estranho complot para que se apanhe uma bebedeira colectiva e universal.
a festa, por aqueles lados, parte das bancadas para a praça. aí vi touros a ajoelhar e cair. vi o sangue que lhes corria no lombo. o mesmo que os bascos tentam substituir por vinho, durante dez dias.
nenhum povo tem mais legitimidade para a festa brava do que os bascos. ninguém sabe o que é investir com toda a força sobre o inimigo, nem que para isso tenha de entregar a vida.

quinta-feira, maio 19, 2005

a terra média

o Paulo F Silva colocou este blog pelas Ruas da Amargura, o que, dadas as circunstâncias, é uma subida honra.
diz ele que Penafiel é uma terra do interior, ainda que fique perto do Porto. um espaço onde os forasteiros, ou na versão contemporânea, os turistas de ocasião, não conseguem comprar um jornal numa qualquer manhã de sábado.
aqui é que bate o ponto. Penafiel é mais do que um espaço geográfico, é uma coordenada mental. encravado entre o litoral e o interior, Penafiel é a Terra Média.
JRR Tolkien pensou, de certeza, em Penafiel quando escreveu o Senhor dos Anéis. na realidade ninguém pode dizer que a terra existe, ainda que existam relatos e provas espectrais desse universo.
ali, aliás, aqui as regras são outras, as unidades são diferentes e as personagens são únicas. só aqui poderiam existir gangs-familiares de peixeiros, a 50 km do mar. só aqui é que há bordéis em contentores, encravados no meio do mato. mas também é aqui que as crianças trabalham nas pedreiras. como diz o ditado quando a criança não vai à pedreira, vem a pedreira ao encontro da criança, em pedaços de granito que, de quando em vez, chegam a voar oriundos de um qualquer rebentamento.
é aqui que os vizinhos resolvem os diferendos com velas de dinamite à porta das garagens. é aqui que não há escolaridade para todos. é aqui que as pessoas menos ganham. é aqui onde não há investimento, não há aopio ao desenvolvimento. é mesmo aqui onde estão algumas das indústrias menos qualificadas e com mais probabilidade de falir (texteis, mobiliário, calçado). é mesmo aqui que, dizem os especialistas, moram os economicamente deprimidos. cá não moram os moralmente deprimidos, aqui ninguém sabe o que é a angústia e o desespero do Kierkgaard, a moral mede-se com outras coisas. aqui ainda se fazem manifestações para pedir luz.
a viagem por aqui é sempre cheia de pedras e terrenos acidentados, ainda que povoada por criaturas extraordinárias (Presidentes da Assembleia da República, Procuradores Gerais da República, Seleccionadores Nacionais) e outras pouco mais que ordinárias.
é aqui, de certeza, que mora o Frodo. mora ele e uma quantidade imensa de outros hobbits em quem ninguém repara. vivem encravados entre o litoral e o interior. é como se vivessemos no separador central da auto-estrada, nem vamos para lá, nem de lá vimos. limitamo-nos a vê-los passar.
por aqui.

ps: com tanto entusiasmo esqueci-me de dizer que o Paulo tem de vir assistir à teimosia, ao vivo e a cores. já sabes é na Biblioteca ou no Bar do Lago.

o assobiador

depois da Nuvem do Rui chega Ondjaki de Angola. O lançamento do livro "E se Amanhã o Medo" que marca o regresso do Ondjaki ao conto, é o pretexto para uma conversa, como todas as outras sobre livros, poesia, prosa e África. desta feita deixamos as catacumbas da Biblioteca Municipal de Penafiel e vamos ver o sol a entrar pelas paredes de vidro do Bar do Lago. e é às 15.

o novo livro do Ondjaki ganhou, o ano passado, os prémios literários António Palouro e Sagrada Esperança e reúne uma vintena de contos agrupados em duas partes: "Horas Tranquilas" e "Conchas Escuras", duas expressões retiradas do livro "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar.

Ondjaki tem menos três anos que eu, e não concorda que o "Assobiador" é o seu melhor romance.
para além do livro de contos, lançou também o livro infantil "Ynari - A Menina das Cinco Tranças".
mas o "Assobiador" é bem melhor. ele está presente em antologias no Brasil, Uruguai e em Portugal.

a nuvem chegou




Chega amanhã à mão de todos quantos o desejarem. chama-se "A Nuvem prateada das Pessoas Graves" e é do Rui Costa. é dele até amanhã às 21.30. hora em que o vamos ouvir e ler. o Rui venceu o prémio Daniel Faria com este livro, e nós ganhamos um projecto e um poeta.
este ano teremos mais uma edição, a segunda, das 10 que já estão garantidas.
na Biblioteca Municipal de Penafiel, amanhã, às 21.30, vamos ouvir o Rui, a Cláudia (que gosta de dizer poesia) e vamos ouvir ainda as perguntas que se fizerem e as respostas que aparecerem.

ps: a dose repete-se no sábado, às 18, no Fórum Fnac do Norteshopping. a apresentação será da responsabilidade da professora Vera Vouga.

sexta-feira, maio 13, 2005

pensamento gay da semana

gostava de ser bailarina!

"Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem?

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelhaBigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho...
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem.

Procurando bem
Todo mundo tem..."

Edu Lobo e Chico Buarque/1982

bons rapazes II

é hoje às 21h, em 91.8. esta semana o "tudo bons rapazes" conversa sobre juventudes partidárias, Benaventegate, o aborto e a aventura do sr. Ivo Ferreira.
com a superficialidade do costume.

uma boa notícia

o Woody Allen e a Scarlett Johansson juntos, no mesmo filme.

"Match Point"

Sexta-feira 13, de Maio

com a "sorte" que tenho ainda me acontece um milagre.

quinta-feira, maio 12, 2005

que grande lata

o "cineasta/actor" Ivo Ferreira chegou ontem a Lisboa e garantiu aos portugueses que nunca gostou tanto de estar de volta a casa, como ontem.
depois de ter pregado a necessidade de uma acção informativa por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sobre os países com legislação apertada e costumes menos brandos, o "cineasta/actor" pediu aos jornalistas que não fizessem desta história uma novela mexicana, alimentando-a "ad nauseum".
ora aqui é que entra a lata. então o sr Ivo vai para o Dubai fumar umas ganzas, ou melhor, dar umas pequeninas e ingénuas aspiradelas num cigarro aditivado com haxixe. é preso. os amiguinhos criam uma onda de solidariedade em torno da excelsa figura do cinema luso. o MNE perde duas semanas, com enviados ao Dubai, em negociações com as autoridades locais. gastando o dinheiro do erário público. para defender um consumidor de drogas. que sabia perfeitamente que o Dubai tem pouco ou nada de semelhante a Amsterdão. e ainda vem pedir para que se não alimente a novela mexicana?
eu defendo que se repatrie o rapazinho para o Dubai, com um pedido de desculpas às autoridades locais. o sr Ivo deverá ser acompanhado por um cartão que garanta que se trata de um personagem de uma qualquer ficção cinematográfica, com indesmentíveis laivos de portuguesismo, mas com a qual não nos identificamos. Se insistirem em deixá-lo cá por Portugal, à solta, ele que trate de pagar o que todos nós gastamos com a sua pequenina aventura.

instalou-se a dúvida

ontem, num acto de patética contrição, o ex-ministro Telmo Correia jurava a pés juntos que soubesse, o que sabe hoje, não tinha assinado um despacho duvidoso que dava autorização para a construção de um empreendimento turístico e o abate de mais de 2.000 sobreiros.
mas na sua tenativa vã e desesperada de justificar o injustificável, o ex-candidato à presidência do CDS, garantiu que no processo só tinha feito o que lhe era exigido. tinha sido nomeado para defender os interesses do turismo e dos empreendimentos turísticos. ele era ministro do turismo, por isso defendeu, com unhas e dentes, o sector. mas será que o ex-delfim de Paulo Portas, não se lembra que antes de ter sido nomeado para defender o turismo e seus promotores, foi eleito para defender os portugueses. não terá parado para pensar que abater mais de 2.000 sobreiros não é, de facto, defender os portugueses.
depois ainda se interrogam sobre o porquê da derrota de 20 de Fevereiro. não deve ter sido por falta de votos dos empreendedores turísticos.

os homens são todos diferentes

"ter uma filha leva-nos a perceber que passamos de Consumidores a Fornecedores"

Tom Zé

Gracie
"You can’t fool me
I saw you when you came out
You got your momma’s taste
But you got my mouth

You will always have a part of me
And nobody else is ever gonna see
Gracie girl

With your cards to your chest
Walking on your toes
What you got in the box
Only Gracie knows

And I would never try to make you be
Anything you didn’t really want to be
Gracie girl

Life flies by in seconds
You’re not a baby
Gracie you’re my friend
You’ll be a lady soon
But until then
You got to do what I say

Nodding off in my arms watching TV
I won’t move you an inch
Even though my arm’s asleep

One day you’re gonna want to go
I hope we taught you everything
You need to know
Gracie girl

And you will always be apart of me
And nobody else is ever going to see
But you and me
A little girl
My Gracie girl"

Ben Folds, "Songs for Silverman"

segunda-feira, maio 09, 2005

o fim

no passado sábado, em Penafiel, conversava com o Manuel Jorge Marmelo sobre a hipótese de ele colocar um fim no blog que alimenta há dois anos.
há dois dias ainda era apenas uma dúvida. hoje é uma enorme certeza. foi demasiado cedo para "Apenas um Pouco Tarde".

o poliglota

este sábado à noite aprendi uma anedota em senegalês...

N'Doye!

ao que tudo indica mais de seis milhões de almas não conseguem enxergar a piada.

para ler

mais quatro sugestões de blogues que acompanho há algum tempo e que a preguiça e o desleixo adiaram a inclusão na lista.
Alexandre Soares Silva e Pessoas de Romance são duas hipóteses de leitura vindas do Brasil. Fonte das Virtudes e Viagem pelas Ruas da Amargura, são hipóteses que chegam da rua Gonçalo Cristóvão.
para ler.

Um instante

um instante de poesia para lembrar que o Prémio Machado de Assis, um dos mais importantes galardões brasileiros, foi direitinho para o poeta Ferreira Gullar. para os interessados, a obra está publicada pela Quasi Edições.

"Um instante"


"Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

é luz presente
sou apenas um bicho
transparente"

sexta-feira, maio 06, 2005

a vergonha

terça-feira começam as comemorações do centenário do nascimento de D. António Ferreira Gomes. começam no Porto. em Penafiel, terra que o viu nascer, nem nada.
nem poder, nem oposição. ninguém sabe, ninguém se lembra. no Porto há teatro, livros, exposições e debates. em Penafiel, até ao momento, nada.
a vergonha segue dentro de momentos.

PS: a EB 2/3 de Penafiel nº1 tem uma página na net que relembra a vida do "Bispo do Porto".

bons rapazes I

ontem gravamos pela segunda vez a primeira edição do "Tudo bons rapazes", já que a primeira (por problemas técnicos) não foi para o ar.
esta noite, quando derem 21 horas, em 91.8, há muito para ouvir.
falamos de eleições autárquicas, de Nelson Correia (candidato socialista em Penafiel), de cultura, de política desportiva, dos Zoë, do ciclo literário Entre Pedras, Palavras e do centenário de D. António Ferreira Gomes.
vale a pena. e isto é só o arranque.

quinta-feira, maio 05, 2005

tá tudo tolo?

Marques Mendes não quer que Valentim Loureiro e Isaltino Morais se candidatem. José Socrates quer que os juízes trabalhem mais e reduziu-lhes as férias judiciais para metade.
que país é este? tá tudo tolo?


Eels, "Blinking Lights and Other Revelations"

os Eels são uma das minha bandas favoritas. É certo que nunca mais farão um disco tão bom quanto "Beautifull Freak", mas cada novo registo é digno de nota.
E e companheiros estão de regresso com "Blinking Lights and Other Revelations". estão também de regresso as frustrações de E, nomeadamente em relação à família.
Son of a Bitch é só um dos 33 exemplos agora disponíveis:

"Mother couldn't love me
But that didn't stop me
From liking her
She was my mom
And I was no son of a bitch
Daddy was a drunk
A most unpleasant man
Asleep on the floor
Just inside the front door
With a smile underneath
His red nose
The wrong look his way
Well, that could really
Wreck his day
And believe me when I say
It would wreck your day too
Grandma took me in
Though times were pretty thin
Said I was no son of a bitch
Down on my knees
Begging god please".

o pecado do exagero

"Capão pecado" do brasileiro Ferréz, editado recentemente pela Palavra, foi uma das minhas maiores decepções, desde que mergulhei na actual literatura brasileira.
as referências eram muitas e boas, contudo, este retrato de uma das favelas mais emblemáticas da zona sul de S. Paulo, não consegue superar as expectativas, nem tão pouco aproximar-se delas.
Ferréz é apresentado como um autor da geração hip-hop, aliás "Capão Pecado" seria uma espécie de primeiro romance hip-hop, mas falha os objectivos.
a escrita sai das vielas e becos da favela, crua e malandra. Os personagens são tão malandros quanto as falas que ensaiam, entre umas e outras.
mas Ferréz, ao contrário de outros autores como Paulo Lins, Drauzio Varella e Caco Barcellos, falha ao apresentar uma teoria da desculpabilização da malandragem. Ferréz apresenta os malandros, mas os malandros são sempre vítimas de uma sociedade que não os poupa. Os criminosos, são vítimas da economia, da história, da política, mas nunca deles mesmos.
"Capão Pecado" é um relato de conversas entre jovens com moral apertada e inflexível. os jovens favelados discutem a necessidade que sentem de se aplicar nos estudos para vencer na vida, como fazem os "playboys". existirão por certo muitos jovens de enorme valor que sofrem na pele a discriminação provocada por uma vida na favela, uma vida de exclusão. mas se o pecado mora naqueles que medem os esfavorecidos todos pela mesma bitola, considerando-os como incubadores do crime, também é certo que o pecado também mora nas certezas de quem apregoa que só há crime porque os favelados não têm oportunidades na vida.
ao contrário da "Cidade de Deus", "Capão Pecado" é um exercício profundamente ingénuo e literáriamente muito desinteressante.

quarta-feira, maio 04, 2005

o triangulo atlantico

"Os olhos do homem que chorava no rio", assim se chama o romance deste senhor e da Ana Paula Tavares, que servirá de mote para mais uma conversa no ciclo literário "Entre Pedras, Palavras".
Paulinho Assumção é o responsável por este projecto literário escrito a duas mãos.
Sobre ele, o homem que inventa livros na blogosfera, a partir de Belo Horizonte, escreveu:
"É um livro-música-de-câmara. E traz com ele a poesia abraçada com a prosa. E fez-se a triangulação Belo Horizonte-Porto-Huíla. Todos aqui estão em festa. Serenus abriu o vinho; Cida La Lampe buscou o vestido mais floral do seu armário; Focs treina cançonetas; Gunz prepara acepipes; a Mulher da Aura Azul comove-se com as lágrimas do tipógrafo; Baldus, vaidoso, sente-se cada vez mais uma pessoa de romance, grau a mais na escala das personagens imaginadas; Vicente Almas trouxe flores para os jarros; e eu, bom, eu fico por aqui, com os mais largos abraços que o Atlântico pode produzir entre Brasil, Portugal e Angola."
O encontro está marcado, como de costume, para as 15 horas, na biblioteca municipal de Penafiel.

segunda-feira, maio 02, 2005

rapazes amordaçados

a primeira emissão do "Tudo bons rapazes" foi um fiasco. a tecnologia amordaçou-nos. em semana de 25 de Abril o cursor azul do computador calou a nossa voz.
esta semana voltamos à carga, quinta-feira voltamos a gravar. falaremos do papa, das listas autárquicas em penafiel e de muito mais.
sexta-feira, se o computador deixar, o programa vai para o ar às 21 horas, em 91.8.

acorrentado

o João Paulo Coutinho desafiou-me a acorrentar-me aos livros através deste questionário. aqui vai, com a certeza de que não trarei grandes surpresas:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?

”O Cavaleiro da Dinamarca” da Sophia de Mello Breyner Andresen.

Já algumas vezes ficaste apanhadinho (a) por uma personagem de ficção?

o protagonista do "Paścoa Feliz", do José Rodrigues Migueis. porquê?
Porque:
"Eu já sofri. Já fui um descontente, um revoltado, se quiserem. Hoje vivo serenamente. A serenidade é a maior virtude da inteligência. O que houve em mim foi um simples conflito dos meios e dos fins. Todo o meu drama se resume nisto. Não discutam se sou mau ou bom. Os actos são bons ou maus, não segundo a vontade, mas segundo os efeitos. E há fatalidades que nos impelem, através do mal, para um destino de beleza perfeita.

A ideia do mal faz-me pensar na Sociedade: estamos quites! Nada fez por mim, nada lhe devo, vivi à margem dela como um cardo à beira dum caminho. Também a não acuso. Não passa duma abstracção para que apela quem já nada espera de si mesmo... Não há senão indivíduos. (Verdadeiramente, só eu existo, eu e estes pensamentos.) E todos exigimos dela alguma coisa!

Mas porque hei-de eu pensar no mundo? É um hábito que fica. Detesto a vida activa! Os gestos que faço, os passos que dou, perturbam-me a vida interior, que é o meu prazer. Esquecimento, quietação! Doutro, não me olhe assim! Não me pergunte mais nada!... Tenho amor a esta casa onde adquiri a certeza definitiva de que existo, porque penso.

Nesta hora solene em que revejo, comovido, a minha biografia, para que hei-de mentir? Eu sou o "homem que obedeceu".

Não me considerem pois um criminoso."


Qual o último livro que compraste ?

"Capão Pecado", de Ferréz. Uma viagem nua e crua ao mundo das favelas de S. Paulo. Nua, crua, mas muito ingénua.

Qual o último livro que leste?

"Romance sem palavras", de Carlos Heitor Cony. a ditadura brasileira e o amor.

Que livro estás a ler?

Sem grande anânimo para o "Longe do Abrigo", de David Lodge, com muita ansiedade de por as mãos nas "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis e a "Ilíada" de Homero, pelas mãos do Frederico Lourenço.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

"Ficções", de Jorge Luís Borges. para lembrar que a mais isolada das ilhas podemos ser nós, assim como o mais inexplorado dos continentes.

"Memorial do Convento", de José Saramago. para não esquecer que o amor se constrói como uma enorme catedral. com muita arte, enorme sofrimento e uma enorme dose de loucura e megalomania.

"Mar novo", da Sophia de Mello Breyner Andresen. para amar aquele que me cerca e aprisiona.

"Robinson Crusoé", Louis Stevenson. para aprender com a experiência alheia.

"Odisseia", de Homero. porque um dia, e há sempre um dia, em que lutamos e regressamos a casa.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Ao Jorge Reis-Sá que cria livros
À Lésse que ama livros
Ao AJCM que pecisca livros

quinta-feira, abril 28, 2005

tudo bons rapazes



é o maior acontecimento da semana na região depois do chumbo à Universidade do Vale do Sousa, do chumbo ao acordo entre o Estado e as misericórdias e a vitória do penafiel sobre o Braga.
hoje é gravado o primeiro programa "Tudo bons rapazes", um espaço de análise, ou não, da actualidade regional, nacional e internacional.
Micael Cardoso, Jorge Baptista e moi même, em conversa animada todas as sextas feiras, no RCP (vulgo, Rádio Clube de Penafiel), em 91.8.
este é também um programa de rádio do futuro, temos e-mail e tudo...
a partir de amanhã mandem as vossas sugestões, questões e incertezas para: tbr-rcp@sapo.pt

assaltado pelo conservadorismo

pela enésima vez o meu carro foi assaltado, ainda que nada tivesse para assaltar. mais do que tudo o que me pudessem ter levado, irrita-me esta precisão, quase helvética, de me lembrarem que não estou a salvo e que, mesmo que nada tenha de valor dentro do carro, eles regressarão para me voltar a lembrar.
por isso, e por muito mais, hoje, estou irredutívelmente:

- xenófobo
- a favor da pena de morte
- a favor da prisão perpétua
- a favor da amputação de membros a delinquentes apanhados em flagrante delito
- a favor da liberalização das armas
- contra o rendimento mínimo
- contra os programas de "desculpabilização" dos toxicodependentes

...hoje estou particularmente mal disposto

terça-feira, abril 26, 2005

Penafiel-Benfica, uma proposta

face ao excelente campeonato que tem efectuado, sendo mesmo considerado a melhor aquisição do mercado de Inverno, N'Doye merece uma prenda. FC Penafiel- SL Benfica em Dakar, no estádio "Iba Mar Diop".
depois da hipótese Guimarães, negada por António Oliveira, que depois garantiu que afinal de contas talvez até nem estivesse assim tão descartada. depois desta nova hipoese de realizar o jogo em Paris, entretanto já descartada porque os regulamentos a não prevêem.
eu agora lanço o desafio, a proposta, a petição.
não somos menos que o Estoril. nós vamos mais a Sul.
bora lá para Dakar, jogar à bola, para gáudio de toda a nação senagalesa e como manifestação do nosso empenho na concretização do Rally Lisboa-Dakar.

que bonito...!

noticia, hoje, o jornal "A Bola", que o FC Penafiel vai realizar uns encontros com e sobre os media.
segundo a notícia, o encontro/debate, partiu do departamento juvenil, agora liderado por um ex-jornalista. ainda de acordo com a mesma nota, pretende-se, com este debate, entre outras coisas, facilitar o período de adaptação dos jogadores que saltam da equipa junior, para o plantel profissional. é bonito, efectivamente é muito bonito.
mas será que se vai poder conversar, também, sobre as razões que levam o presidente a não dar entrevistas aos jornais e rádios locais, o que leva certos jornalistas a serem afastados por escreverem textos mais críticos.
era bonito, efectivamente era muito bonito!

sexta-feira, abril 22, 2005

ver com distância

enquanto, por cá, a nossa imprensa se maravilhava com a possibilidade de D. José Policarpo poder ser eleito Papa, na revista brasileira Veja, a análise era bem mais profunda. eles até tinha o cardeal Cláudio Hummes, mas não ficaram por aí. nós tinhamos o cardeal José Policarpo e não fomos mais longe. não há nada como um bocadinho de clarividência e atenção aos pormenores.
estava cá tudo.

"O pontificado de João Paulo II deve muito a Ratzinger, para o bem e para o mal. Agora, o alemão está cobrando o que julga caber-lhe. Ele simplesmente apossou-se da memória de Karol Wojtyla. No pré-conclave, aproveitou-se de uma idéia estapafúrdia para exercer pressão sobre os outros eleitores. Ele permitiu que uma moção de apoio ao início imediato do processo de beatificação de João Paulo II, a ser encaminhado ao próximo papa, fosse submetida aos cardeais que participarão do conclave. O documento foi deixado em cima de uma mesa. Quem quisesse poderia assinar. Muitos se sentiram compelidos a fazê-lo, mesmo sabendo que essa assinatura será cobrada na hora do conclave, para manter a Igreja sob o wojtylismo."

in Veja, Mário Sabino

este texto é também bastante revelador do que espera a igreja católica.

quinta-feira, abril 21, 2005

a lista. que lista? a lista.

a lista do PS em Penafiel, para as autárquicas, não surpreende. mas deveria surpreender? eu entendo que não. a lista é, antes de mais, uma justa compensação para com quem, ao longo dos últimos três anos, deu a cara pelo partido, fazendo oposição à maioria PSD-PP.
dirão, muitos, que se trata de uma lista constituída por segundas figuras. mas se foram as segundas figuras a fazer, exclusivamente, o combate político, então elas tornaram-se nas primeiras figuras.
o resto, as ex-primeiras figuras, não são mais do que uma espécie de Eládios Clímaco, Luís Pereira de Sousa, ou seja, uns tipos porreiros que vão passar a dormir numa prateleira dourada e que serão chamados para encher umas quantas cerimónias e reuniões do partido.
passaram à história.
Agora começa a ser desenhada uma nova fornada socialista em Penafiel. os futuros presidente e vereadores socialistas do PS serão, no futuro, alguns destes que agora se apresentam, mas não todos. muitos destes vão ficar pelo caminho, mas estão a criar bases para um partido mais forte. neste momento serão uma espécie de Marques Mendes, umas formiguinhas a trabalhar para um futuro mais distante.
Há ainda quem diga que "Roma não paga a traidores". é outra explicação. tão válida quanto esta. e tão justa quanto esta.

a família cresceu



acabou de chegar. ainda não deixou ninguém dormir e já roeu muita coisa. ainda assim só temos olhos para ela... a Rita!

terça-feira, abril 19, 2005

pé na tábua ou nos travões?

segundo a Veja, um cardeal muito inspirado caracterizou a igreja desta forma:
"O problema da Igreja é que ela, hoje, é um carro com um motor muito, muito fraco e freios muito, muito bons".

eu não diria melhor.

o grito



Millôr Fernandes, Veja, 2005

segunda-feira, abril 18, 2005

coerência

todos nós já nos habituamos a ouvir da parte de vários vendedores da Fnac que um outro item está esgotado, e minutos depois acabamos por encontrá-lo numa estante. o que nunca tinha visto era uma desorganização tão grande no site da FNAC.
a secção de livros do site é um verdadeiro mundo às avessas. Se procurarem em literatura de língua portuguesa estas são as primeiras sugestões:

- O Livreiro de Cabul, Asne Seisertas
- A Mancha Humana, Philip Roth
- O Mistério dos Sete Relógios, Agatha Christie
- Lust, Elfriede Jelinek
- Cantilenas em Geleia, Boris Vian
- O Atiçador de Wittgenstein, David Edmonds e John Eidinow

até podiam garantir-me que se tratava de literatura (traduzida em ) língua portuguesa. porém há outros erros grosseiros na secção de Literatura de Língua Portuguesa - Lusófona. aí há sugestões deliciosas. a começar pela primeira, "Memória das Minhas Putas Tristes", de Gabriel García Márquez e a terminar em "Um Longo Domingo de Noivado", de Sébastien Japrisot.
estes franceses chegam cá a Portugal e em pouco tempo apanham-nos os tiques todos, até esta capacidade de constante e completa desorganização.

oh Rui, põem lá o disco a tocar!

Quando eu morrer

"Quando eu morrer
Não levarei flores pro meu buraco
Porque eu vou morrer
De cancro
E não se dão flores
A quem morre de cancro
Não há tempo
Ou então vou morrer
Cheio de radiação
Devido a um erro qualquer
Sem importância
Agressão nuclear
Bem planificada e perfeitamente justa
E se eu escapar
Com vida a tudo isto
Morrerei de fome
Comido por um bicho
E não levarei flores
Pr'meu buraco"

Xutos & Pontapés, "78-82"

onde será que meti o meu lenço vermelho e as pulseiras com picos?

"Jerusalém"

"Com dezoito anos Mylia sabia já como humilhar os homens. Conhecia o intervalo existente entre a sedução e a repulsa e sabia manipular esse espaço: reduzindo-o, ampliando-o, fingindo que ele não existe para logo a seguir o exibir de modo ostensivo. Só se humilha quem se aproxima, sabia já por instinto Mylia, e preparava-se assim para exercer essa habilidade perversa - de puxar primeiro para depois empurrar - sobre aquele médico que avançava, logo nos primeiros segundos após a saída dos seus pais, para algo que Mylia receava e desejava: um interrogatório.
- Sou esquizofrénica - disse ela, sem deixar que o médico Theodor Busbeck abrisse a boca. - Li nos livros. Sei bem o que sou. Sou esquizofrénica, louca. Vejo coisas que não existem e sou perigosa. Quer-me curar?"

Gonçalo M. Tavares, "Jerusalém", Círculo de Leitores, 2004

a guerra, os periquitos e uma sala cheia

e a sala foi pequena para ouvir o José Rodrigues dos Santos. falou-se de quase nada de jornalismo e muito sobre investigação e romances históricos.
numa toada muito serena, o autor contou como nasceram as mais de 600 páginas da "Filha do capitão".
falamos da guerra e do destino dos homens.
ouvimos o Filipe perguntar pelos periquitos do "Zé" e ouvimos uma senhora perguntar onde é que o autor tinha feito a primária, porque o marido achava que tinha sido professor dele.
ainda assim falamos bastante e acreditamos ter convertido uns tantos. nós prometemos voltar já neste sábado, às 15, como de costume.